sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O Oscar, Scliar, Martel e o plágio

 
 
 
 

No universo da literatura não são raros os escândalos e embates envolvendo plágio, direitos autorais, etc. Uma polêmica de 10 anos atrás voltou à baila por conta do filme "As aventuras de Pi" (Life of Pi) de Ang Lee - diretor premiado de filmes como "Razão e Sensibilidade", "O tigre e o dragão" e "O segredo de Brokeback Mountain" - concorrente ao Oscar de 2013. O filme foi baseado no livro homônimo de Yann Martel. Em 1981 foi publicado no Brasil, pela L&PM Editores e em 1985 nos Estados Unidos, o livro “Max e os felinos” do autor brasileiro Moacyr Scliar. Vinte anos depois, em 2002, Yann Martel, um autor canadense, escreveu "As aventuras de Pi" (Life of Pi) e ganhou o Booker Prizer, cobiçado prêmio inglês.
 Houve plágio?!
Evidentemente, há semelhanças e  diferenças nos dois relatos. No livro de Scliar, o jovem sobrevivente , fugindo da Alemanha nazista,  está viajando para o Brasil num navio que  transporta animais de um zoológico; no livro de Martel, um indiano está emigrando para o Canadá, também num navio, com sua família que é dona de um zoológico. O tema central - o personagem principal à deriva num barco salva-vidas, no meio do oceano, em companhia de um felino - é o mesmo.
 Conjecturas e dúvidas forçaram um posicionamento dos dois escritores. Moacyr Scliar escolheu um caminho mais elegante e o suposto plagiador, o da atitude ofensiva ao admitir que houvesse se inspirado em "Max e os felinos", segundo ele, "uma boa ideia estragada por um escritor menor",  pasmem!
 Agradecimentos feitos posteriormente  - em prefácio, ele escreveu "a centelha de inspiração devo-a ao Sr. Moacyr Scliar" sem mais explicações - não apagam, a meu ver, tanta petulância.
 Sei do investimento e comprometimento emocional, afetivo, intelectual e até físico de um escritor ao desenvolver uma obra. Sei de suas inquietações, dissabores e busca pelos meandros e armadilhas da linguagem e da imaginação. Sou casada com um escritor que já foi proprietário de uma editora. Logo, também sei que o comportamento pouco ético não foi só de Yann Martel, mas de todos os envolvidos nessa publicação.
 Não estou avaliando a intenção e qualidade das duas obras. Admito-as. Em "Max e os felinos", Scliar faz uma analogia com a ditadura instaurada pelo golpe militar em 1964 no Brasil. Os felinos representam todos os relacionamentos autoritários e despóticos contra os quais Max deve lutar. No livro de Martel, a abordagem é mais espiritual. Questionamentos filosóficos e teológicos são pincelados numa narrativa bem construída.
 O que me aborrece é essa banalização do desrespeito, esse descompromisso com a ética profissional.
Enfim, em seu livro, Yann Martel escreve basicamente sobre a fragilidade e imaturidade do ser humano frente às vicissitudes e exigências da vida. Talvez ele seja o melhor exemplo!


No vídeo abaixo, Moacyr Scliar dá o seu depoimento esclarecedor sobre o assunto em pauta.
 
 
 

 Moacyr Scliar (1937-2011), gaúcho, formado em Medicina, especializou-se no campo da saúde pública como médico sanitarista. Posteriormente, tornou-se doutor em Ciências. Publicou mais de setenta livros. Foi agraciado com vários prêmios literários: Jabuti (1988,1993 e 2009), o da Associação Paulista de Críticos de Arte (1989) e o Casa de Las Américas (1989). Em 2003, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. O autor já teve suas obras traduzidas para doze idiomas.

 

Fonte: Saiba mais em http://pt.wikipedia.org/wiki/Moacyr_Scliar



Por Aline Andra


 

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